Dados do Trabalho


Título

HEMOGLOBINURIA PAROXISTICA NOTURNA E GRAVIDEZ: DESAFIOS NO MANEJO DA GESTAÇAO

Introdução

A hemoglobinúria paroxística noturna (HPN) é um distúrbio hematológico raro - cerca de 1 a 5 casos por milhão de pessoas, com discreta preponderância sobre o sexo feminino, sendo o diagnóstico realizado, em média, na terceira década de vida. Trata-se de uma doença determinada por mutação somática no gene fosfatidilinositol glicano classe A, alteração que leva à hemólise crônica pela deficiência na expressão de CD55 e CD59 na membrana dos eritrócitos, aumentando, assim, a atividade de proteínas do sistema complemento sobre as hemácias. Ademais, eleva, em torno de 30 a 40%, o risco de distúrbios tromboembólicos, apresentando complicações materno-fetais significativas.

Objetivo

Analisar os riscos na gestação em mulheres portadoras de HPN.

Casuística

Não há.

Método

Trata-se de uma revisão bibliográfica integrativa de artigos publicados na base de dados do PubMed, nos anos de 2013 a 2023, sendo utilizados para pesquisa os descritores DeCs/MeSH: “Paroxysmal Nocturnal Hemoglobinuria” AND “pregnancy”. Ao total, 46 artigos foram selecionados, e, após aplicação do critério de exclusão para aqueles que relacionavam a doença com a gestação, 25 foram analisados.

Resultados

A concepção é contraindicada em pessoas com HPN devido ao elevado risco de trombose e à acentuação da atividade do sistema complemento, fatores que aumentam a morbidade e a mortalidade materna e fetal. Eventos trombóticos representam cerca de 50% das mortes relacionadas à HPN, porém, na gestação, esse número é ainda mais expressivo - aumento de 12% na taxa de mortalidade materna - em razão da elevação de hemoglobina livre associado a ao excesso de ativação plaquetária e pelo estado protrombótico fisiológico. Esse condição deve-se ao aumento dos níveis dos fatores VII, VIII, X, XII, XIII e fator de von Willebrand, bem como a duplicação da quantidade de fibrinogênio circulante, a redução de proteína S e de ativador do plasminogênio tecidual, o que denuncia o desequilíbrio entre os sistemas pró e anticoagulantes e fibrinólise. Como consequência, há um quadro de hemólise intravascular exagerada, que, além de ser uma resposta à hiperativação do sistema complemento, é também favorável à formação de microtrombos, visto que gera uma disfunção endotelial que cursa com microangiopatia trombótica, e à lesão renal aguda e crônica por toxicidade mediada pela hemoglobina (deposição de hemossiderina no córtex da adrenal). Logo, transfusões sanguíneas são necessárias durante a gravidez, assim como a terapia anticoagulante profilática, inclusive pós parto. Como estratégia terapêutica, o eculizumabe, um anticorpo monoclonal humanizado contra a proteína C5, é utilizado por bloquear a clivagem enzimática e interromper a cascata pró-inflamatória e a lise celular, embora o conhecimento sobre o efeitos dos tratamentos aprovados seja limitado.

Discussão e conclusões

Pacientes com HPN apresentam maior risco de mortalidade devido às alterações tromboembólicas, principalmente durante a gravidez. Mesmo havendo terapias aprovadas com eculizumabe, a gestação permanece um risco para essas pacientes, sendo essencial a abordagem conjunta da ginecologia e da hematologia no acompanhamento.

Área

Hematologia

Instituições

Universidade Nove de Julho - São Paulo - Brasil

Autores

NATHANY MARTELLO EICH, LETICIA LIMA DA SILVA, MARCELA GONÇALVES SANT ANA